domingo, 27 de janeiro de 2008

Quatro Patas

“Se cada um de nós pudesse realmente ser varrido por uma bala de fuzil, não haveria sentido algum em relatar histórias” – Hermann Hesse

Lucas Hungria Trindade Santos, mas havia um amor duas casas ao lado para chamá-lo de Luquinhas que eu sei, não me engana. 16 anos, na 6ª série, sim, e daí?, com uma insistência se formaria ainda no girassol das idades. Insistência e permissão. A primeira já é impossível dizer, fica no infinito do se, a segunda dia 11 negaram com três disparos no peito. Ele, ajoelhado, pedindo o que fosse. O PM, pistola apontada, não querendo perder a viagem do braço.
O erro de Lucas foi correr. Quando avistou uma perseguição policial a um sujeito na Ladeira de São Caetano, soltou as pernas. Que é isso, Luquinhas. Nunca ouviu a história da estátua de sal? Você virou sal. Atingido na mão e em seguida cercado.

Djair Santana de Jesus tinha uma arma, daquelas que brilham até sob luz de fósforo, que se guarda para não deixar machucarem nossas mães no futuro, e um pacotinho seguro de drogas, o bom jeito de ver dinheiro ainda adolescente, comprar camiseta do Bahia, tênis, bola, pilha do controle remoto. Tinha, mas nunca soube disso. Engoliu seus dois tiros e ganhou a biografia que não é sua.

Alexandre Macedo Fraga, suposto como aquele que iria assaltar um caixa de banco, treinava para ser motoboy. Se dessem mais uns dois anos, ok, uns três anos, ele já estaria pronto para acelerar 120, 140, 200km e fugir daquele projétil. Projétil, projeto, projétil, projeto. Essas palavras são próximas demais. Maldade.

"Ricardo Matos dos Santos", gritou ele mesmo, depois do primeiro sulco de sangue no corpo e antes de outros sete. Era acrobata. Por que futebol naquela hora então? Era forte candidato ao Cirque du Soleil. Por que futebol naquela hora então? Infidelidade. Um circense deve estar sempre no circo, protegido pelas lonas. Reconheço, Ricardo, que você pode argumentar que um policial também deve estar sempre com a farda, que deve ter sempre língua para ao menos indagar. Mas ele pode, faz o que alveja. Ele tem o fogo, e você, só a chama, que se foi.

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