terça-feira, 27 de maio de 2008

Interviremos


a convite das moças de Cinema da FTC, vou declamar junto com mais dois cabras dO Coentro, sob o som de um berimbau.

domingo, 25 de maio de 2008

O Coentro

O que fiz de atuação nesses últimos dois meses está nessas duas grandes mãos: a faculdade de Filosofia que acabei entrando por segunda lista e o grupo O Coentro. Sobre Filosofia, digo que se quem entrar ali não encontrar em si uma paixão que precise ser controlada, vacinada, para não se desastrar, ao menos vai encontrar uma pipocante fonte intelectual, dessas que toda vez que você tem contato, sente a cabeça se mexer, os engenheiros neurológicos costuraram mais um pedaço no cerébro para comportar. E se não for uma fonte intelectual, uma sensação de equilíbrio esquisito. E se não for nada disso, talvez seja caso de você não estar pulsando a vida com tanta força (pretendo funcionar o www.dedosnasbordas.blogspot.com para pôr também alguns causos a respeito). E sobre o Coentro, bom, é outra boa nova. Uma reunião assídua de gente assídua, beirando à uma banda, à uma seita, à uma amizade de filme francês*. Alvaro Andrade, Marcelo Oliveira, João Araújo, Laiz Fraga, Nelson de Oliveira Neto, Aline Sopa e eu. Todos na varanda aqui de casa, uma noite por semana, cada um com um papel amassado pra lerem. E quando se lê o texto de um em voz alta, e nunca é o próprio autor quem ler, se exclui que aquilo foi escrito por um presente. Ataca ou afaga o texto como se fosse distante, póstumo, alienígena. É preciso falar desenfreadamente, mexer nele, dizer o que foi ele como fenômeno dentro de si, e nunca deixar que o próprio autor fale. O autor não é uma autoridade, nem quando ele tem a palavra, depois da meia hora em que o resto o discute e ele, nervoso pra cacete, aguarda e morde a rede e bebe vinho e ri sem jeito. A opinião do autor é uma qualquer. Só alguém que cumpriu a obrigação de fazer literatura pro mundo.
O Coentro não começou apenas com essa vontade. Sempre nos cercou a motivação da produção literária, e toda reunião nos perguntávamos o que seríamos nisso exatamente. Recital e debates foram as meninas dos olhos, que ainda persistem e continuarão como nossos motins. Tanto que ocorreram, semanas atrás, na Bienal de Artes da Ufba. Recebemos o convite bem em cima, por alguém do DCE que sabia do conluio e das nossas vontades. Aceitamos, aprontamos o negoço em três semanas e aconteceu bem, de um modo que ninguém acha que aconteceria quando se trata de literatura em Salvador. Mas isso eu reavejo no próximo post, que isso merece um sozinho.
Temos a vontade de nos espalhar, de declamar até em velório e batismo de criança, como diria Marcelino Freire. E também de treinar pesado a estilística, a narrativa, a estrutura, a estética, nossas considerações sobre o que é que fazemos, porque escrever não está nesse estado empírico que pregam, um pegar de caneta isolado e ir. Escrever é instrumento. Pode ser um aprendizado mais solitário e subjetivo que outros, mas também deve exigir tremendo tempo e tremendo esforço. Nisso seguiremos pelo estudo da teoria literária, de autores, de correntes e uns etcs. Não acho academicismo, não acho uma podação da feitura, acho sim que é preferir andar num quarto, que está sem lâmpadas, às três da tarde, sol a pino, e não às três da madrugada, noite fechada. A tendência paulistéia urbana, de uma fatia da nova geração literária, em desconsiderar a labuta total do escrever, "por deixar tudo sério e blasé demais", é, no mínimo, encucador.
O Coentro já participa do evento "Cinema de uma Corda Só", no dia 26/05, para declamar uns pingos. Vão ter três bandas, exibição de curtas, exposições e tais. No pátio do Icba. 5 pilas. E fora isso, outros bons elos que falarei no decorrer do mundo, da vida, da varanda, do blog.




* - É o cumprimento de uma idéia posta aqui. Está em "Dica de Verão: Uma Oficinazinha Literária"

Pela ausência

Passei uns tempos sem nada por aqui, mas por mal-criação, por achar que isso tivesse acabado em mim. É fácil para mim achar algo do tipo, "acabou", é, "acabou", assim como consigo parar um filme pela metade e nunca mais vê-lo, mesmo com a curiosidade de um pré-histórico perto do fogo. Consigo deixar escola, cursinho de inglês, de massoterapia, amor, jeitos de ser, com uma facilidade que chega a ser imoral. Às vezes parece que acordo e esqueço. Deixei, não me pega mais, quero outra coisa, para três dias depois resgatar a mesma coisa de antes como se fosse outra. Para mim, as coisas precisam se revertir sempre, não por elas mesmas, e sim em meu próprio raciocínio, para guardarem de novo os seus direitos de acontecerem. Sou de uma independência perigosa, a criança que percorre ruas e não sabe como voltar. Aliás, ela sabe se tiver o endereço escrito em adesivo, no alto do peito. E eu tenho - todos os meus textos, minhas prosas, minhas rimas. Elas servem antes de tudo para mim. Quando eu as releio, eu lembro o que eu estava tentando fazer da vida e me desviei. Renovo o que eu queria e quero de novo sempre com essa ilusória camada de diferença. Escrevo para saber e saberei de novo isso quando ler essa frase daqui a cinco meses, numa tarde ruim. É isso - estou para o meu futuro, crio como quem se antecipa dos próprios erros que inevitavelmente serão cometidos. Sou um escritor maternal.
E tudo isso porque li ontem o texto "Literatura no Colégio - Incentivo ou Sabotagem?". Entendi novamente velhas vontades e percebi que eu não estava fora do Movimento aSSAlto. Quero sim a militância, a política. Ainda quis nesses dois meses que me passaram, mas apenas a militância literária. Ainda é, inclusive, essa militância que eu quero, mas agora entendi que posso querê-la apenas e continuar aqui. Meu temor era o aSSAlto ter começado como uma intervenção urbana mais genérica, uma mobilizadora anárquica, e ficar apenas com uma causa no fim das contas. Mas não, preciso me desapegar. Acontece de vontades e movimentos migrarem para um espaço distinto do original e se fincarem. Achei meu espaço e aqui que eu quero ficar. Eu sei que não é um erro, não é um desvio, um dos meus esquecimentos, porque pesquisei em mim e entendi, mas a minha reta. E sigo.