domingo, 25 de maio de 2008

Pela ausência

Passei uns tempos sem nada por aqui, mas por mal-criação, por achar que isso tivesse acabado em mim. É fácil para mim achar algo do tipo, "acabou", é, "acabou", assim como consigo parar um filme pela metade e nunca mais vê-lo, mesmo com a curiosidade de um pré-histórico perto do fogo. Consigo deixar escola, cursinho de inglês, de massoterapia, amor, jeitos de ser, com uma facilidade que chega a ser imoral. Às vezes parece que acordo e esqueço. Deixei, não me pega mais, quero outra coisa, para três dias depois resgatar a mesma coisa de antes como se fosse outra. Para mim, as coisas precisam se revertir sempre, não por elas mesmas, e sim em meu próprio raciocínio, para guardarem de novo os seus direitos de acontecerem. Sou de uma independência perigosa, a criança que percorre ruas e não sabe como voltar. Aliás, ela sabe se tiver o endereço escrito em adesivo, no alto do peito. E eu tenho - todos os meus textos, minhas prosas, minhas rimas. Elas servem antes de tudo para mim. Quando eu as releio, eu lembro o que eu estava tentando fazer da vida e me desviei. Renovo o que eu queria e quero de novo sempre com essa ilusória camada de diferença. Escrevo para saber e saberei de novo isso quando ler essa frase daqui a cinco meses, numa tarde ruim. É isso - estou para o meu futuro, crio como quem se antecipa dos próprios erros que inevitavelmente serão cometidos. Sou um escritor maternal.
E tudo isso porque li ontem o texto "Literatura no Colégio - Incentivo ou Sabotagem?". Entendi novamente velhas vontades e percebi que eu não estava fora do Movimento aSSAlto. Quero sim a militância, a política. Ainda quis nesses dois meses que me passaram, mas apenas a militância literária. Ainda é, inclusive, essa militância que eu quero, mas agora entendi que posso querê-la apenas e continuar aqui. Meu temor era o aSSAlto ter começado como uma intervenção urbana mais genérica, uma mobilizadora anárquica, e ficar apenas com uma causa no fim das contas. Mas não, preciso me desapegar. Acontece de vontades e movimentos migrarem para um espaço distinto do original e se fincarem. Achei meu espaço e aqui que eu quero ficar. Eu sei que não é um erro, não é um desvio, um dos meus esquecimentos, porque pesquisei em mim e entendi, mas a minha reta. E sigo.

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