terça-feira, 8 de janeiro de 2008

#3 . Santo-conto



AV.SETE
4 de Janeiro


"O artista mineiro radicado em São Paulo, Dácio Bicudo, ultrapassou os limites do Museu de Arte da Bahia (MAM) para levar uma linha vermelha com 10 cms de largura por 3 kms de asfalto, na qual escreveu o nome de mais de 100 artistas plásticos. Nada a ver com o Rio de Janeiro - é como uma fita do Senhor do Bonfim gigante. Ao perceber a intervenção artística no Centro da idade, a Superintendência de Engenharia de Tráfego mandou remover.

A linha pintada no chão sai do andar térreo do Solar do Unhão, pula o muro do prédio do século XVII que pertenceu ao ex-provedor da província Gabriel Soares, atravessa a Avenida Contorno do arquiteto Diógenes Rebouças (o mesmo da Fonte Nova), sobe a Ladeira dos Aflitos, passa em frente ao Quartel, vira à esquerda na Avenida Sete, morre em frente ao Elevador Lacerda e ressuscita na Praça Cayru, na Cidade Baixa, onde será construído o Hilton Hotel.

O trabalho, que não é um dos premiados do 14º Salão da Bahia aberto até fevereiro no MAM é o que mais propicia uma interação com a sociedade, como pretendia o autor. Especialmente com a Superintendência de Engenharia de Tráfego (Set), que ordenou a sua retirada das ruas da cidade. Um dos seus agentes alegou que a intervenção confunde os motoristas, já que linha vermelha é geralmente utilizada como sinalização de ciclovias, conforme contou a assessoria do Museu que recebeu a notificação. A restrição foi formalizada pelo ofício 1126/2007 repassado ao artista.

Dácio Bicudo não gostaria de ter que apagar o próprio trabalho que lhe custou “noites e noites" para ser executado. Disse que foi “terrível”, aplicar o nome de mais de 100 artistas no asfalto entre espaços de 30 cms, dentre eles Glauber Rocha, Hélio Oiticica, Emanoel Araújo, Ferreira Gullar, Brennand, Lígia Clark, Cícero Dias etc. A maioria, ninguém na Avenida Sete, sabe quem é. Não sabe sequer que o 14º Salão está no MAM e pode ser visitado.

Alba Cristiane Costa, 30 anos, assistente social, cheia de compras na mão, nas Mercês, declarou que não conhece nenhum dos nomes que leu sobre o asfalto. E garantiu que se tivesse tempo seguiria para ver onde iria dar a linha vermelha.
Foi o que o agente da SET fez quando viu a pintura com aqueles nomes todos. E assim chegou ao Museu. Foi quando informou ao assessor Daniel Rangel, que a intervenção não poderia permanecer porque atrapalharia o trânsito. "

fonte A Tarde

Minha mãe me acordou. "A Av.Sete tá interditada, não passa carro nenhum por lá, tudo porque um artista plástico pintou uma linha vermelha no asfalto". "Hum". "A SET quer que a prefeitura pinte por cima". "Hum". "Você vai se lembrar disso quando estiver realmente acordado?". "Hum rum". Uma hora depois. Telefone de novo. "Você ainda não foi?". "Onde?". "Av.Sete! Vai lá dá um apoio ao artista plástico". "Ah, ele já deve ter a mulher dele...". "Vai aSSAltar, aproveita". "Poxa, é verdade. Por que você não foi direta assim antes?"
O fuzuê já havia terminado, se é que o fuzuê em algum momento termina na Av.Sete, mas uma fila saborosa de carros estacionados permanecia, como sempre deve permanecer. E fui de sorriso solto. Dois terrorismos no mesmo dia que é pra deixar de ser besta. Axé, Dácio Bicudo!

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