CABULA
3 de Janeiro
"Tava um calor danado por essas bandas,precisava me mexer pra refrescar um pouco.
Havia um certo resquício de ressaca de reveillón na rua,mas a mesma estava cheia,de carros,transeuntes,cachorros e pombos. Cocô de pombo também.
Logo no início comecei pelas casas,caixas de correio,grades de portão.Uma senhora ficou me olhando,imaginando na certa que o intuito desse assalto era outro.Mas não esse.Esse aSSAlto é pela literatura,para pôr fim à mediocridade cultural.
Parti pros carros.Parecia uma Maria Gasolina,era só ver um automóvel dando sopa e eu paf!Santinho no pára-brisa.Não tinha distinção,não,tanto fazia o novo Fox como o bom e velho Gol quadrado.Daí me espalhei,simpatizava com a cara de fulano e falava:"Já conhece o movimento aSSAlto?" - depois entregava o santinho.
Pontos estratégicos como gancho de telefone público,bolsas entreabertas,não passaram despercebidos.
Até na hora de locar "Saneamento Básico" rolou intervenção - pretexto perfeito pra xavecar a balconista da locadora.
E assim findou-se o primeiro dia de intervenção urbana em prol da literatura informal.A garota do vídeo não pode sair mais tarde pra tomar um sorvete,mas foi válido pra dar uma ajuda pros parceiros."
Rafael Ribeiro, grande hombre, amante das causas perdidas (ele tem um mapa) e contribuinte
3 de Janeiro também:
OUTRAS SECRETARIAS DO CAB
Minha mãe precisou voltar na Secretaria de Educação. Lá: "Bom, temos uma vaga para bibliotecária na escola Wil...". "Não sou bibliotecária". "Mas a senhora tem que entender que nosso processo está difícil". "Sou professora". "OK, acho que temos uma vaga aqui pra professora de Filosofia". "Filosofia? Mas minha especialização é educação infantil. Trabalhei com primário a vida toda". "Não tem como você aprender até Março?". "...". Enquanto isso, assaltei pela Secretaria da Agricultura, de Indústria e Minério (e que estacionamentozinhos bons pra pôr papel discreto. Nenhum segurança ao redor), Embasa, Agerba (e aí eu precisei disfarçar, senti que era suspeita minha presença naqueles buracos, ainda com uma mochila lateral, camisa riscada. Disse que procurava a Secretaria de Cultura, mesmo sabendo que por ali não existia) e umas garagens externas de prédios que nem decorei o nome, só sei que tinha slogan federal. Bom, choveu e eu pela primeira vez pensei que isso poderia acontecer no meio de um ataque, molhar a zorra toda, que um acaso climático faria sim sua lambança. Isso não me enfezou mais do que escorregar num morrozinho de grama da Paralela e ralar o dedo, o joelho, quase inutilizar uma face da calça.
"Coordenadora?". "Não quero trocar de função. Gosto do que faço". "E se...". "Professora, meu senhor" Enquanto isso, pus ação de novo na Secretaria de Educação, o guardador de carros já rindo ao me rever. Dei umas voltas, esperei pra cacetes, outras voltas e me contentei em encostar no Gol Vermelho, à espera. Me descontentei, fui pra o meio-fio catar um livro na mochila e me martirizar por não ter nem uma BIC na metade, nada, escritor fajuto, despreparado. Aí que notei entre duas folhas, um exemplar do santo-conto abandonado e úmido. É, alguém pegou no pára-brisa e jogou chão abaixo. Tudo bem, isso eu imaginava em algum momento. Sou melhor pessimista do que metereólogo. Mas o curioso é que estava dobrado e em oito partes, cuidadosamente. Por quê tanto esmero em se livrar de algo?
"Certo, temos uma vaga no Eduardo Novaes"
sábado, 5 de janeiro de 2008
#2 . Santo-conto
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3 comentários:
Na volta pra casa depois do aSSAlto,vi um santinho rasgado pela metade jogado no chão.O importante é ler,não colecionar!
Porra,tia Ileuza,pró de filosofia?!Massa!
E, depois disso tudo, ainda deu um "oi" para Kubrick. Pelo menos não foi com Laranja Mecânica...
Assaltei um senhor no elevador e ele me jurou que você escrevera sobre o casemanto dele.
Incrível!
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