domingo, 1 de junho de 2008

Bienal de Artes



Eu tenho uns tiques lingüísticos vez ou outra, e uns até que me acompanham por meses, como o "massa" para o sim e para o não, para uma coisa pronta ou para uma coisa entendida, e nesse sábado de recital eu peguei o "funcionou". Para todo mundo que eu cumprimentava, era um "funcionou". Na sexta vez, já me achava um puto repetitivo e me limitava a sorrir. Bem, é que é isso: para mim funcionou, de entusiasmar sim. Um lugarzinho bom lá na Escola de Belas Artes da Ufba, mas de poucos lugares e poucas luzes, com apenas um microfone para o recital, com todos os seus atrasos e defeitos de organização, com nossa inexperiência de estréia em evento, com a expectativa pessimista em eventos literários de Salvador (quais? quais?), com a dependência total do público para a continuação do recital, e mesmo assim rendendo gente e durando 2hs. 2hs, com apenas a pausa de uma intervenção de dança (pausa bem-comentada, disseram) E de resto, só declamatório. Nem música ao fundo, o que Paulo Scott, poeta gaúcho e mestre dos saraus pelo Brasil, declara como arriscado para um recital, perigando entediar o público sem costume de ver pessoas declamando. E foi esse todo-tempo, o povo sentado lá nas esteiras e nas almofadas, bebericando ora ou outra o sangue de boi e a cachaça que Wladimir Cazé e Bárbara gentilmente nos trouxe. Os declamadores funcionaram (sim, funcionaram): a meia-hora de James Martins (esse é do grupo performático Pós-Nada. A memória dele é que nem a do personagem de um conto de Borges, "Funes, o Memorioso", tudo o que lê, decora. Porra, e ainda aquela noção de polifonia), os cordéis de Franklin Maxado, o monólogo cangaceiro de um aluno de teatro da Ufba, leitores autorais, intérpretes de Hilda Hilst, Castro Alves, Adélia Prado, e vai etc. Tanto que Lima Trindade me comentou, temeroso, antes de ler um conto dele do livro Corações Blues & Serpentinas: "Será? O nível está alto".

No dia anterior, também aconteceu bem um café literário, com debate de quatro autores baianos, Sandro Ornellas, Carlos Ribeiros, Franklin Maxado e Lima Trindade, sobre o tema Literatura Baiana Contemporânea: Regionalismo vs. Cosmopolitismo Até inspirou Sandro na palestra ministrada por ele nessa semana na Argentina e lhe havia rendido um post em seu blog: "DÚVIDA DA MESA DE ONTEM - Escritor baiano contemporâneo: artista ou autista?". Sandro tratou desse isolamento proposital do escritor baiano, que acaba por torná-lo regional; Carlos, do panorama dos autores baianos pelo século XX e a distinção da Velha Bahia e a Nova, o que é e não é mais possível com a urbanização; Franklin, da discriminação que sofre a literatura de cordel e o enaltecimento da manutenção dos vínculos nordestinos; Lima, da junção entre esses dois termos, regionalismo vs. cosmopolitismo, que de jeito nenhum devem se confrontar e sim entrarem na simbiose da universalidade.

é possível? é.