O que fiz de atuação nesses últimos dois meses está nessas duas grandes mãos: a faculdade de Filosofia que acabei entrando por segunda lista e o grupo O Coentro. Sobre Filosofia, digo que se quem entrar ali não encontrar em si uma paixão que precise ser controlada, vacinada, para não se desastrar, ao menos vai encontrar uma pipocante fonte intelectual, dessas que toda vez que você tem contato, sente a cabeça se mexer, os engenheiros neurológicos costuraram mais um pedaço no cerébro para comportar. E se não for uma fonte intelectual, uma sensação de equilíbrio esquisito. E se não for nada disso, talvez seja caso de você não estar pulsando a vida com tanta força (pretendo funcionar o www.dedosnasbordas.blogspot.com para pôr também alguns causos a respeito). E sobre o Coentro, bom, é outra boa nova. Uma reunião assídua de gente assídua, beirando à uma banda, à uma seita, à uma amizade de filme francês*. Alvaro Andrade, Marcelo Oliveira, João Araújo, Laiz Fraga, Nelson de Oliveira Neto, Aline Sopa e eu. Todos na varanda aqui de casa, uma noite por semana, cada um com um papel amassado pra lerem. E quando se lê o texto de um em voz alta, e nunca é o próprio autor quem ler, se exclui que aquilo foi escrito por um presente. Ataca ou afaga o texto como se fosse distante, póstumo, alienígena. É preciso falar desenfreadamente, mexer nele, dizer o que foi ele como fenômeno dentro de si, e nunca deixar que o próprio autor fale. O autor não é uma autoridade, nem quando ele tem a palavra, depois da meia hora em que o resto o discute e ele, nervoso pra cacete, aguarda e morde a rede e bebe vinho e ri sem jeito. A opinião do autor é uma qualquer. Só alguém que cumpriu a obrigação de fazer literatura pro mundo.
O Coentro não começou apenas com essa vontade. Sempre nos cercou a motivação da produção literária, e toda reunião nos perguntávamos o que seríamos nisso exatamente. Recital e debates foram as meninas dos olhos, que ainda persistem e continuarão como nossos motins. Tanto que ocorreram, semanas atrás, na Bienal de Artes da Ufba. Recebemos o convite bem em cima, por alguém do DCE que sabia do conluio e das nossas vontades. Aceitamos, aprontamos o negoço em três semanas e aconteceu bem, de um modo que ninguém acha que aconteceria quando se trata de literatura em Salvador. Mas isso eu reavejo no próximo post, que isso merece um sozinho.
Temos a vontade de nos espalhar, de declamar até em velório e batismo de criança, como diria Marcelino Freire. E também de treinar pesado a estilística, a narrativa, a estrutura, a estética, nossas considerações sobre o que é que fazemos, porque escrever não está nesse estado empírico que pregam, um pegar de caneta isolado e ir. Escrever é instrumento. Pode ser um aprendizado mais solitário e subjetivo que outros, mas também deve exigir tremendo tempo e tremendo esforço. Nisso seguiremos pelo estudo da teoria literária, de autores, de correntes e uns etcs. Não acho academicismo, não acho uma podação da feitura, acho sim que é preferir andar num quarto, que está sem lâmpadas, às três da tarde, sol a pino, e não às três da madrugada, noite fechada. A tendência paulistéia urbana, de uma fatia da nova geração literária, em desconsiderar a labuta total do escrever, "por deixar tudo sério e blasé demais", é, no mínimo, encucador.
O Coentro já participa do evento "Cinema de uma Corda Só", no dia 26/05, para declamar uns pingos. Vão ter três bandas, exibição de curtas, exposições e tais. No pátio do Icba. 5 pilas. E fora isso, outros bons elos que falarei no decorrer do mundo, da vida, da varanda, do blog.
* - É o cumprimento de uma idéia posta aqui. Está em "Dica de Verão: Uma Oficinazinha Literária"
domingo, 25 de maio de 2008
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6 comentários:
Eu fico feliz de fazer parte de um fragmento importante da vida de Saulo.
E eu ficaria feliz se Saulo corrigisse a data do evento -> 29/05 é o correto.
hauaha
É isso aí, velho, bola pra frente!
É gol do Coentro!
:)
Aii as minhas noites de quinta...
=*
Nelson de Oliveira Neto :P
Tem um errinho bobo de infinitivo - e, sobretudo, de falta de atenção - no texto, todo imperceptível, quem achar ganha um doce.
E vida longa ao Coentro. :)
Para dizer o que há de ser dito, ainda com tanto blog & e-mail, literatura & filosofia, é preciso ser o irresponsável que não revisa, digitar no próprio corpo da mensagem e enter.
;)
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